Editorial

Água é prioridade

Entra governo, sai governo e décadas vão se passando sem que o Brasil consiga resolver o problema da falta de água para milhões de pessoas que vivem nas regiões mais áridas do País. Certamente todas as gerações que agora leem este texto já perderam as contas de quantas vezes assistiram, ouviram ou leram reportagens mostrando as dificuldades enfrentadas por moradores do Nordeste que convivem com o descaso do Poder Público que só agrava a seca. Pessoas que são lembradas apenas a cada disputa eleitoral, quando o período pré-campanha garante alguns parcos investimentos nestas localidades, desde que sejam capazes de gerar boas imagens para as propagandas e iludir eleitores desesperados por condições mínimas de dignidade. No entanto, apuradas as urnas, o problema segue praticamente o mesmo.

Um exemplo vergonhoso disso é o que ocorre neste momento com cerca de 1,6 milhão de nordestinos que, até o final de outubro, eram atendidos pela chamada Operação Carro-Pipa, que leva água a famílias que residem e tentam se sustentar com a produção rural no semiárido daquela região do País. Logo após passada a eleição presidencial, o governo federal aplicou um corte de recursos a esta ação, resultando no desabastecimento de água potável a pessoas de oito estados do Nordeste que recebiam o suporte. A alegação do Exército e do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) é a de que a interrupção teria ocorrido por falta de verbas e que o problema é de conhecimento do Ministério da Economia.

Para além do maior dos absurdos, que é o Estado brasileiro deixar de garantir algo essencial à vida (água!) por uma questão econômica, de falta de planejamento ou simplesmente por descaso pós-eleitoral, é constrangedor saber que a Operação Carro-Pipa é realizada há duas décadas. Ou seja, são 20 anos de uma política – se é que se pode chamar assim – precária e emergencial, sem qualquer caráter de resolutividade, de dar fim ao sofrimento dos cidadãos nestas condições. No fim das contas, eles permanecem presos à boa vontade dos gestores de plantão que, ao invés de executarem solução definitiva para o abastecimento de água, preferem financiar (ou cortar) o vai e vem de tanques por centenas de milhares de quilômetros. Governantes atuais e passados que, no discurso, dizem se orgulhar do que fazem pelo Nordeste. Na prática, contudo, seguem empurrando com a barriga um drama que coloca em risco a saúde e sobrevivência de milhões, além do desenvolvimento do País.

O Brasil que sonha com futuro próspero não consegue sequer que autoridades levem a sério a sobrevivência digna de seus cidadãos. Cortar verba para água é muita aridez.

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